Textos

Manifesto da Transdiciplinaridade (Laura Monte Serrat)


  • Um belo manifesto, escrito por um físico quântico, consultor da UNESCO, que sentiu a necessidade de testemunhar a possibilidade de se construir um projeto para o futuro com paradigmas diferenciados, capazes de delinear uma nova forma de conceber o homem e o mundo.

    Basarab Nicolescu, o autor, faz um passeio entre a mecânica quântica, a física quântica e as ciências sociais e humanas. Com uma linguagem simples, permite-nos perceber a transdisciplinaridade como a necessidade de transgredir as fronteiras entre as disciplinas, resultado do pensamento clássico, diferenciando-a da pluridisciplinaridade e da interdisciplinaridade.

    Segundo o autor, a abordagem transdisciplinar inaugura uma nova etapa da História, superando a visão compartimentada originada no cientificismo e nas ideologias cientificistas. Seu testemunho coloca a revolução quântica como o ponto central das transformações desejadas.

    O pensamento clássico e a ciência moderna marcaram o século XX com dogmas e ideologias que devastaram, com suas certezas, a consideração do homem como parte do universo, como ser solidário com seus semelhantes, e implantaram no mundo a busca da eficácia pela eficácia.

    A linguagem disciplinar, decorrente desse pensamento, não deu conta de provocar a interação entre os conhecimentos das várias disciplinas criadas pela ciência moderna.

    A pluridisciplinaridade foi uma forma de buscar essa interação; porém, propôs-se a estudar um objeto, de uma única disciplina, através de outras disciplinas, o que enriquecia o objeto estudado, mas não resultava na referida interação.

    A interdisciplinaridade, outra forma de linguagem encontrada para buscar a relação entre os conhecimentos disciplinares, propôs-se a transferir métodos de uma disciplina para outra, em três graus distintos: de aplicação, epistemológico e de geração de novas disciplinas.

    Tanto a pluridisciplinaridade quanto a interdisciplinaridade superaram a visão disciplinar; porém, permanecem inscritas, segundo o autor, na pesquisa disciplinar. A interdisciplinaridade, quando gera novas disciplinas, contribui para o big bang disciplinar, dificultando a integração do conhecimento.

    Multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. (Fonte da ilustração: http://www.sociologia.org.br/tex/ap40.htm.)

    A transdisciplinaridade diz respeito àquilo que está, ao mesmo tempo, “entre” as disciplinas, “através” das diferentes disciplinas e “além” de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente, mediante a unidade do conhecimento. Ela não é uma ciência, nem propriedade de uma determinada disciplina. Diferencia-se da pesquisa disciplinar, pluridisciplinar e interdisciplinar, mas é considerada, juntamente com elas, uma das quatro setas do arco do conhecimento.

    O modelo transdisciplinar muda a noção das “leis da natureza” e fala de uma natureza objetiva que está ligada ao objeto, cuja metodologia é a ciência; de uma natureza subjetiva que está atrelada ao sujeito, cuja metodologia é a ciência antiga do ser; e da trans-natureza que fala da comunidade de natureza entre o objeto e o sujeito, que se refere ao campo do sagrado, visto como o sentimento que nos liga aos objetos e pessoas, como sentimento religioso.

    Esta estrutura ternária da trans-natureza permite defini-la como natureza viva e pede uma nova metodologia que não é nem a metodologia da ciência moderna, nem a metodologia da ciência antiga do ser, e sim a metodologia transdisciplinar que transgride e abre espaço ilimitado de liberdade, de conhecimento, de tolerância e de amor.

    A transdisciplinaridade pressupõe o pensamento e a experiência; a ciência e a consciência; a efetividade e a afetividade. Neste sentido, a transformação de visão e de ação no mundo passa por um diálogo transdisciplinar, baseado em pontes que ligam os seres e as coisas, acompanhado por uma revolução da inteligência que transforma nossa vida individual em social, através de um ato estético e ético, desvelando a dimensão poética, superando o interesse da eficácia pela eficácia e resgatando o humano.

    A leitura desta obra, como profissional da Psicopedagogia, proporcionou-me a reflexão sobre a origem da Psicopedagogia como fruto da interdisciplinaridade, surgindo como mais uma disciplina entre tantas já existentes, bem como a compreensão da resistência de algumas disciplinas a esse surgimento. Por outro lado, refleti sobre a intenção da Psicopedagogia, como uma disciplina que se propõe a utilizar os quatro arcos do conhecimento; sobre a disciplinaridade, quando se constitui como uma disciplina no quadro científico atual; sobre a pluridisciplinaridade, quando contribui, como mais uma disciplina, para o estudo da aprendizagem; sobre a interdisciplinaridade, quando se propõe a integrar conhecimentos de várias disciplinas para compreender o processo de aprender; sobre a transdisciplinaridade, quando se propõe a construir pontes entre a objetividade e a subjetividade, entre a ciência e a consciência, entre a efetividade e a afetividade na compreensão do ser que aprende e no significado dessa aprendizagem para a sua humanização.

    O manifesto da transdisciplinaridade é um livro que não pode deixar de ser lido por pessoas que se preocupam com o futuro do ser humano e do Universo.

    Referência

    NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdisciplinaridade. Tradução: Lúcia Pereira de Souza. São Paulo: Triom, 1999.

    Fonte: http://www.psicopedagogia.pro.br/Ambito_da_Sociedade/Resenhas/Transdisciplinaridade/transdisciplinaridade.html

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